O BRAILLE COMO ALIADO INDISPENSÁVEL A UMA BOA ESCRITA

É notório que a língua portuguesa está se modificando com o passar dos anos, o que é natural. Ela é enriquecida diariamente ao receber influências linguísticas de todas as espécies. O que está acontecendo, no entanto, é o mau uso dela. Nota-se, em praticamente todas as áreas das atividades humanas, que, em nossos dias, Escreve-se mal e fala-se pior ainda. Indubitavelmente, uma das principais causas para que isto esteja ocorrendo é a falta da boa leitura.

Nesse sentido, em um país com apenas 3.000 bibliotecas públicas, em que existem 5.200 municípios, já se vê que não há uma política à altura da valorização desse gosto pela leitura de livros, jornais e revistas .

Só para se ter uma idéia de como esse incentivo à leitura poderia se dar de forma simples, mas eficiente, saibam que nos Estados Unidos, quando sai um livro que eles chamam de "paper back", uma edição popular de um livro de sucesso, o próprio Governo americano compra de saída 100 mil exemplares para distribuir entre as bibliotecas públicas e escolas. O governo dá o ponto de partida, estimula. Isso é uma coisa genial, indispensável e transformadora.

E por que devemos incentivar o gosto pela leitura? Principalmente porque, conhecendo melhor o seu idioma, o indivíduo será capaz de raciocinar, analisar e fazer uma reflexão mais aprofundada e apurada dos assuntos e fatos que envolverão a realidade que o cerca; e isso dependerá do domínio que ele terá da língua.

Desse modo, o aumento do vocabulário de uma pessoa é condição fundamental para que este processo se realize a contento, pois quem tem o domínio de uma situação linguística sabe como usar adequadamente um número razoável de palavras. O vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, tem 360 mil palavras, mas quando o indivíduo conhece 30 mil dessas 360 mil, é considerado um gênio. Em nosso dia a dia, usamos de 4 a 5 mil palavras, e olhe lá!

Gostaria de apresentar agora a opinião de alguns intelectuais respeitados sobre este assunto:


"Quem não sabe falar bem não consegue justificar a sua própria existência. O decréscimo da língua portuguesa empobrece o País." (Antônio Olinto, membro da Academia Brasileira de Letras)

"A base da cultura é a própria língua. Quem não sabe falar não consegue ensaiar os outros passos. Se há o empobrecimento da língua, há o empobrecimento das ideias, e a sociedade brasileira está amadurecendo e valorizando a Educação." (Tarcísio Padilha, secretário geral da ABL)

"O Português deveria ser objeto de orgulho, de satisfação. Quem não conhece a própria língua não tem identidade, não tem patrimônio." (Sérgio Corrêa da Costa, acadêmico, historiador e diplomata de carreira.)


Na verdade, tanto entre os deficientes visuais quanto entre os normovisuais, podemos observar este processo de empobrecimento linguístico que, espero, muito breve, seja revertido, na medida em que já estão em andamento, em muitas partes do Brasil, projetos de incentivo à leitura como o das bibliotecas ambulantes, que circulam principalmente por comunidades carentes; o de escritores que vão às escolas falar sobre suas obras e debater com os alunos; entre outros. Acredito ainda que, além dessas maravilhosas e bem-vindas iniciativas, cada um de nós, que já adquiriu o gosto da boa leitura, pode dar a sua contribuição para que outras pessoas, mormente crianças e adolescentes, se interessem pelo livro e façam dele um companheiro constante de suas vidas.

O bom domínio da Língua Portuguesa é inegavelmente um fator decisivo para a abertura de novos horizontes nos mais diversificados campos e áreas do Conhecimento e do Saber, aplicado a inumeráveis atividades humanas. E, para isso, os cegos brasileiros já podem contar com vários instrumentos para este fim: computador, escaner, gravadores digitais, bibliotecas de livros gravados, digitalizados e em braille...

Ah, o velho amigo braille! Decerto nenhum cego que não possua qualquer problema com o tato de seus dedos poderá deixar de aprender e de sempre se utilizar deste fantástico sistema de leitura e escrita, em nome de mais independência em sua vida diária.

Revela-se, sem dúvida alguma, o Sistema Braille como o melhor processo pelo qual um cego poderá aperfeiçoar os três pontos gramaticais que, normalmente, apresentam mais dificuldades no uso diário do nosso idioma, a saber: a acentuação, a pontuação e a ortografia, principalmente este último, sobre o qual o professor e gramático Pasquale Cipro Neto faz as seguintes considerações:

"A competência para grafar corretamente as palavras está diretamente ligada ao contato íntimo com essas mesmas palavras. Isso significa que a freqüência do uso é que acaba trazendo a memorização da grafia correta. Além disso, deve-se criar o hábito de esclarecer as dúvidas com as necessárias consultas ao dicionário. Trata-se de um processo constante, que produz resultados a longo prazo."

Dicionários e corretores ortográficos já estão à disposição dos cegos que estudam e trabalham com o auxílio de computadores; porém duvido muito que a maioria se utilize dessas ferramentas a todo instante para verificar se está correta a grafia de algumas palavras sobre as quais teve alguma dúvida quando, por exemplo, estiver digitando uma simples mensagem para um amigo ou para uma lista de discussão na internet.

A memorização da grafia correta das palavras se dá por duas fontes: pela visão ou pela sensibilidade do tato, no caso das pessoas cegas. Nenhum cego, por mais que leia os melhores autores brasileiros, ficará sabendo corretamente a grafia de determinadas palavras se somente realizar suas leituras através de livros gravados ou digitalizados.

Indiscutivelmente, tanto os livros gravados como os digitalizados, que se apresentam modernamente como meios de leitura preferidos por uma boa parte dos deficientes visuais, principalmente pelos mais jovens, dinamizam o acesso destas pessoas à informação, ao estudo e à cultura em geral.

Todavia, é também inquestionável a insistência que se deve manter em se incentivar o processo de aprendizado do Sistema Braille para que as pessoas cegas, entre várias razões que justificam este aprendizado, não percam o contato com a forma correta de se escrever.


Paz e Sabedoria a todos!

Prof. Eduardo Fernandes Paes


- Bacharel e licenciado em Letras pela Universidade Gama Filho, RJ; com especializações em Metodologia do Ensino da Gramática Tradicional e na Didática de Ensino de pessoas com deficiência visual.

Professor responsável pelo sítio "NOSSA LÍNGUA_NOSSA PÁTRIA" - um sítio a serviço da Língua Portuguesa, da Educação e da Literatura Brasileira.

www.nlnp.net

E-Mail: nlnp@nlnp.net

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